quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Democracia? Eu acho que não.

Fiquei um tempão sem escrever porque precisava organizar minhas ideias. Digo isso porque época de eleição mexe muito com os ânimos das pessoas – inclusive com os meus – e é preciso dosar o que vai ser dito para que seja, de fato, produtivo.

Muitas coisas me deixam indignada com a política, mas quero falar de algumas delas – as que considero mais importantes – separadamente para não perder o foco, pois acho que poucas pessoas tem o conhecimento necessário para julgar com clareza a grandiosidade do seu voto e o peso que ele tem.


Pois bem, quero agora explicar o porquê do título do post. Eu sempre soube que nas eleições existia um cálculo para determinar a eleição efetiva dos candidatos, as tais “cadeiras” de cada partido. Mas só há pouquíssimo tempo consegui entender o que isso significa e me decepcionei diante do fato concreto de não vivermos em uma democracia.


Os cálculos são simples e envolvem dois fatores: quociente eleitoral e quociente partidário. Para calcular o quociente eleitoral soma-se a quantidade de votos válidos de um estado e divide-se pelo número de vagas que o mesmo possui na Câmara dos Deputados. Para calcular o quociente partidário divide-se a quantidade de votos recebida por cada partido pelo quociente eleitoral.


Depois que tomei conhecimento disso percebi o poder de manipulação que os maiores sempre tem sobre os menores, uma cadeia alimentar doentia. Explico: a candidata que recebeu meu voto para Deputada Federal recebeu quase 130 mil votos. No entanto, ela não conseguiu se eleger. Alguém sabe por quê? Simples. Ela, defendendo seus ideais políticos, abandonou um grande partido ao qual pertencia e filiou-se a um bem menor, que pela sua quantidade de votos não conseguiu cadeira na Câmara. Por outro lado, outra candidata sem propostas concretas nem ideais claros, devido à grandiosidade de seu partido e ao investimento em uma grande campanha de marketing – que somados geram imensa popularidade pela falta de consciência política que grande parte dos eleitores tem – angariou nada mais nada menos que quase 500 mil votos, ganhando cadeiras para o seu partido e levando com ela Deputados que não tiveram nem a metade dos votos da minha.


Foi exatamente isso que aconteceu no tão comentado caso do candidato e agora, até que se prove o contrário, Deputado Federal, Tiririca. Ele recebeu aproximadamente um milhão de votos. Consequência: levou consigo políticos que não conseguiriam se eleger pela quantidade de votos recebidos, inclusive mensaleiro que deveria estar bem longe da política. Acaso? Claro que não. Isso foi uma estratégia – muito bem sucedida – do partido para angariar votos e conseguir garantir mais cadeiras na Câmara.


Agora, quem é que vai dizer que isso é democracia? Não é. Não tem como ser. Democrática seria a eleição onde os candidatos mais votados pelo povo o representassem. Democrática seria a eleição onde um candidato que recebeu 130 mil votos ficasse a frente de outro que recebeu 30 ou 40 mil. Por isso quando aparecem reportagens em Brasília vemos Deputados Estaduais e Federais sendo entrevistados e não sabemos nem de onde saíram. Claro, não fomos nós que os colocamos lá, foi um esquema, um conchavo para que SEMPRE seja beneficiado o maior, o mais poderoso. República? Não, não aqui.


Pensando em tudo isso vejo o quanto é importante nós, como professores, sermos sabedores desse tipo de coisa. Nós temos como responsabilidade formar cidadãos críticos e atuantes, que saibam participar e ser construtores da própria sociedade. E uma parte muito importante da criticidade é o conhecimento prévio para fazê-la.


Quero deixar registrados dois pensamentos para pura reflexão. Rousseau e Paulo Freire são ícones na educação democrática, personagens de importância ímpar que muito tem a contribuir com a formação de qualquer professor, e deixo conceitos advindos deles que tem total coerência com tudo que escrevi até agora:


“A pátria não subsiste sem liberdade, nem a liberdade sem a virtude, e a virtude sem os cidadãos (...). Ora, formar cidadãos não é questão de dias; e para tê-los adultos é preciso educá-los crianças.” (Rousseau).


“O educador democrático não pode negar-se ao dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão.” (Paulo Freire).


Para encerrar, deixo a música “Perfeição” – Legião Urbana, onde há anos atrás foi pintado um cenário que, infelizmente, não mudou muito. Mas é preciso acreditar que um dia mudará, e que isso depende de cada um.


2 comentários :

  1. Parabéns pela visão política e chamamento para a participação da cidadania colocando em cheque nossa organização partidária para a ligitimidade eleitora.

    ResponderExcluir
  2. Obrigada. Acredito que quanto mais informações divulgarmos melhor será a qualidade dos políticos que nos representam!

    ResponderExcluir