domingo, 18 de dezembro de 2011

A arte de reprovar!

Antes de mais nada quero deixar bem claro que as perguntas que lançarei aqui não tem respostas – pelo menos eu não as tenho – mas preciso exteriorizá-las para estender estes questionamentos.

Esse final de ano passei por uma experiência nova: os conselhos de classe. Até então, como eu não trabalhava no ensino regular, isso não tinha sido necessário. Aprendi muito, muito mesmo, inclusive a desconstruir paradigmas que eu mesmo estipulei.

Quando eu ouvia alguém dizer “fulano passou por conselho”, eu ficava pensando o tamanho do absurdo que isso representava: ora essas, não tirou nata, reprova! Que pensamento retrógrado e cainho, santo Deus.

Agora vejo com mais clareza o peso que essa decisão, que é minha e de outros professores, tem na vida do aluno.

Pois bem, voltando ao início, esse ano tive conselhos de classe. Eu praticamente me descabelei de tanta preocupação.

Imaginem que o Joãozinho (sempre ele, coitado) está no 6º ano e não conseguiu nota suficiente por diversos motivos (falta de atenção, bagunça, dificuldade). Fez exame final em várias disciplinas, mas mesmo assim não atingiu a média e ficou dependendo da aprovação do conselho de classe. O Joãozinho, como vem de outras reprovações, já tem 14 anos – enquanto as crianças dessa turma tem, em média, onze.

No mesmo contexto do Joãozinho, temos também o Zezinho, mas ao invés de 6º ano ele está na 6ª série, vendo a turma que começou o Ensino Fundamental com ele na 5ª série se formar, e ele nada. O Zezinho, além disso, precisava tirar 8,0 na exame final em Língua Portuguesa (com a pessoa que aqui vos fala) e tirou 6,5 – maior nota da sala.

E em terceiro lugar vem o Luizinho, que já tem 16 para 17 anos – idade de completar o Ensino Médio – e ainda está na 8ª série.

Eu me pergunto: DO QUE ADIANTA REPROVÁ-LOS NOVAMENTE? Qual será o tipo de trabalho diferenciado feito com eles para que aprendam de uma forma que, nitidamente, não aprenderam até hoje? O que eles, a escola, os professores e os colegas de turma ganharão com essa reprovação? Qual é a probabilidade de alunos que reprovaram 2 ou 3 vezes serem aprovados tendo as mesmas aulas sempre? Que condições nós, professores, temos de preparar uma aula diferenciada para esse aluno que precisa de um olhar especial? Tudo isso me perguntei antes do conselho de classe, para ter uma fala pronta quando me fosse perguntado: “o que você acha?”

Mas, parafraseando o Capitão Nascimento, “quem disse que a vida é fácil parceiro?”. Ao chegar no conselho sem discurso pronto mas sabendo o que queria defender, percebi uma coisa que me deixou triste – e nem é sobre o Joãozinho, o Zezinho ou o Luizinho. Quando a coordenadora lançava para o conselho decidir a aprovação ou reprovação de alguns alunos, surgiam os comentários: esse não merece, só bagunçou o ano todo, quase me enlouqueceu, etc etc etc...Eu realmente acredito que isso seja verdade, na verdade eu SEI, porque também tive alunos assim no decorrer do ano, mas a aprovação se dá pelo cognitivo ou pelo comportamental? Por que a partir do momento que for pelo comportamental poderemos reprovar metade da escola.

Como eu disse anteriormente, as minhas perguntas não tem respostas – pelo menos, por enquanto, não para mim. Mas elas precisam ser feitas.

É preciso que analisemos sempre e cada vez mais as atitudes que tomamos, principalmente em situações tão decisivas. Uma reprovação muda por completo a vida escolar do aluno. Isso quer dizer que eu acho que todos tem que passar de ano? Não, mas acredito que precise reprovar quem teve dificuldade de aprendizagem, quem ainda não é 3 ou 4 anos mais velho que a turma toda, quem receberá, no ano seguinte, um aula diferenciada para que consiga aprender como não conseguiu até então, enfim, a reprovação precisa ser uma segunda chance, e não um sistema de punição.

Os conselhos de classe acabaram, mas eu sabia que o meu próximo post precisava ser sobre eles porque ainda estão aqui, vagando no meu inconsciente.

Um comentário :

  1. Realmente, são muitos os pontos de interrogação...
    Mas temos mesmo é que ampliar a discussão.
    Parabéns pela iniciativa em trazer um tema de certa forma, angustiante!

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